24 de novembro de 2018, Ana Cavalcanti e Emily Bandeira
A maconha, assim como outras plantas de poder, marcou a história da América Latina. De inúmeras e distintas formas, a relação entre ela e a cultura, entre ela e o poder e a política nos permite analisar aspectos essenciais para compreender nossas questões comuns como latinos e as questões específicas de cada comunidade dentro desse continente bagunçaaaaado. Ela acompanha trajetórias de exclusão, de resistência, de novos vínculos e de contato com a natureza.
Durante o século XX, a América Latina foi taxada como exportadora de drogas e, consequentemente, de problemas para o mundo desenvolvido. Desde o contato dos colonizadores com essa terrinha, nossas plantinhas são levadas e vendidas a um preço muito alto. Esse comércio, feito com ganância e partindo da busca por controle e conquista, deixou marcas de sangue pelo caminho. Sangue dos que plantam, colhem, cuidam e trabalham nessa terra. Sangue dos que recebem a menor parte do lucro vindo das vendas da maconha ou da cocaína.
Agora, o "mundo desenvolvido" volta a olhar para a América Latina, devido ao seu potencial de cultivo, colheita e consumo. A maconha pode ser um fator chave para contribuirmos com a desconstrução dessa percepção muito doida de que temos que plantar para exportar, ou que precisamos comprar os produtos super desenvolvidos e tecnológicos que vêm de fora a preços absurdos.
O Uruguai conseguiu atrair atenção por outros motivos. O Uruguai foi o primeiro a admitir o que muitos já sabiam: a Guerra às Drogas não faz sentido. Por isso, considerou que o tratado internacional que proíbe as drogas a um nível mundial não tem valor superior ao da garantia de direitos humanos. Assim, O Uruguai foi o primeiro país do mundo a legalizar para todos os fins, a começar a pensar nas estruturas e questões necessárias para lidar com essa mudança. O Uruguai é nosso exemplo de espírito latino, desobediente por amor e sensatez, corajoso em iniciar novos movimentos, reconhecendo erros e facilidades sem duvidar de suas capacidades. País chiquito, que inverteu o sentido da influência : depois da legalização ali, outros países e estados começaram a seguir o mesmo caminho. Um caminho que acreditamos ser sem volta, apesar das possibilidades de treta.
Podemos pensar juntos como latinos: o que temos a oferecer para o cenário mundial da ganja?A regulamentação de cada lugarzinho deve ser adequada ao seu contexto, para que possa contribuir para compensar os absurdos feitos no último séculos contra nossas populações, em razão de uma ilusória Guerra às Drogas, que além de muitas pessoas, buscou assassinar as culturas associadas a essas plantas.
Queremos aproveitar nossa terra rica, nosso sol abundante, nossos braços fortes para, novamente, plantar. Mas não em um contexto em que nossos esforços sejam desvalorizados perante a organização econômica mundial. Tampouco queremos ser deixados de lado nesse processo bonito e depender de outros países que produzam e exportam para nós essa plantinha que pode crescer tão fácil e tão bem em nossas terras e , com isso, ajudar a resolver tantos problemas.
A gente quer cultivar maconha. A gente quer extrações nacionais. A gente quer também trocas e alianças com quem tem feito isso sem o cabresto da proibição. Se conectar com a rede, aprender, trocar, sem, uma vez mais, sermos explorados.
É com esse espírito que ficamos muito felizes de poder comparecer no Foro Internacional de Mujeres Cannábicas este ano em Medellín e também na #expocannabis em Montevideo também nesse ano de 2018. Acompanhar os avanços e desafios dos últimos 5 anos de legalização desse paisito pode ser muito enriquecedor para refletir sobre nosso próprio contexto.
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