2 de outubro, 2018, Emily Bandeira
Bem, se existem dispensários que estão na ativa há anos, mesmo na ilegalidade, implica que algum tipo de legitimidade foi criada diante desse mercado, certo? Talvez das peças chaves para brincar de desobediência civil no Canadá, uma das mais importantes seja a do apoio da população. Ou, no mínimo, sua garantida indiferença em relação à ganja rs. Como assim?
Parece que, para o típico canadense, a desculpa da “Guerra às drogas” não cola mais. Não tô dizendo que uma nação inteira assimilou toda a porcariada que essa guerra gera todos os dias, até porque é difícil tomar dimensões desse desastre mundial (inda mais num país “"desenvolvido””). Mas talvez o típico canadense entenda que lutar contra uma planta faz bem pouco sentido e investir energia contra seus usuários menos ainda (esperamos que a visão se amplie para as outras substâncias!)
A galera da ganja quer fumar? Belê. O corpo é deles mesmo, né? Acaba aí a questão rs. Se os maconheiros querem se organizar? Ótimo, deixe que se organizem. Se querem ter acesso às substâncias com mais segurança e facilidade quem é quem pra falar o quê, não é mesmo?
E isso traz uma sensação de tranquilidade sobre o consumo da ganja, que pelo amor da deusa, devia ser assim em todo centímetro do planeta (aquelas que acha que sabe o que é melhor pro mundo KK). Se se respeitam as normas de conduta para fumantes (do mesmo jeito que você não vai fumar seu Marlboro perto da mãe que amamenta ou seu cigarrinho de palha perto das crianças no parque) tá tudo certo. E TÁ TUDO CERTO.
E nós, crias da geração proibicionista, parece que tamo com o corpo travado para esse tipo de coisa. Digo de consumir ganja assim, tão despreocupadamente, em espaços públicos. Mesmo eu, mocinha cheia de privilégios, enrijeço todos os músculos se um policial passa e tenho beck. Isso é cabuloso, imagino que quem sofre essa possibilidade de violência todo dia (mesmo sem carregar drogas por aí), deve possuir travas a um nível celular.
E aí, de repente, uma tranquilidade imensa para se consumir o que se quer, como quiser. Nas ruas, nos parques(mesmo que em nem todas as províncias permitam 'de verdade')…Existem até os estabelecimentos onde se pode ir para fumar e tomar um cafezinho (os tais dos 'vapor lounges). Isso é novo. Não só aqui, mas, por enquanto, no mundo mesmo (vale lembrar que ~novo~ nesse mundo proibão-capitalista rs). Porque mesmo na Holanda, Espanha, EUA, não são tão liberais as leis para se fumar em público (no Uruguai o bagulho é mais tranquilo também, viva os hermanos! <3).
Talvez essa seja das coisas mais aprazíveis e que eu queira para nosso futuro: a tranquilidade e liberdade para ser usuária abertamente. Usufruir da autonomia do meu corpo para consumir o que queira, como queira, onde queira (ou quase rs). Se a lógica da opressão não está sendo –constantemente– operada sobre os usuários, estes podem reunir energias para outros fins. Isso significa possuir energia para pensar em saúde, lazer, em como reduzir danos, espalhar informações, atuar em comunidade, se organizar perante o que se acredita e etc.
E assim surgem as mais diversas atividades relacionadas à ganja. Em termos de ativismo, empreendedorismo, filosofia e experimentação. Dessa maneira, se estabelece uma cena cannábica forte, cheia de misturas e politicamente ativa. Surge uma maior variedade de eventos, vias de consumo, movimentos culturais…Enfim, dá para brincar legal na zona autônoma cannábica.
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