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  • Foto do escritorMulheres Cannábicas

Impressões sobre Medellín



Eu me distraí. Acabei me entretendo com todos os efeitos das montanhas no meu corpo. Chegamos em La Paz e quase imediatamente adentramos as novas missões rápido demais. E aí eu me distraí. E ia deixar passar mais tempo antes de escrever sobre a Colômbia. E não pode. Não pode. Não dá pra deixar passar mais tempo porque aquilo tudo da Colômbia me adentrou avassaladoramente.

Medellín. Tem essa também né. Minha Colômbia por enquanto se resume a

Medellín.

Ai, Medellin, chegou a hora de escrever sobre você e eu nem sei se consigo. Medo de não fazer jus. Porque você conquistou meu coração e o transformou num buñuelo quentinho. Porque você não tem vergonha e fala, escuta, palpita com seu habladito colombiano. Essa sua energia concentrada, seu chameguinho no ouvido foi demais pra mim. E sinto que mesmo longe agora possuo as ferramentas de te chamar de dentro. Conhecimentos trocados, internalizo a força que sai das tuas montanhas, corre por entre os vales, avenidas principais, serpenteia entre suas praças movimentadas e volta como dragão subindo até suas favelas e toda a gente que por lá habita. Aqui em La Paz também estamos circundadas de montanhas, mas não é o mesmo, aqui impera um silêncio sério que ainda não aprendi a escutar. Lá não há silêncio, lá há ondas sonoras que se revoltam, se batem, se misturam e caem exaustas nas calçadas.

Medellín me balançou as estruturas logo de cara e no começo não sabia se me atirava ou se tomava cuidado. Até sair por suas noites e observar suas luzes e seus muros grafitados. Até escutar a salsa que vibra de seus rádios. Até andar por seu centro movimentado, perceber-me formiguinha em seu cenário e desfilar por entre seus movimentos de cores e sons. Até embriagar-me de seus cafés (sim, tão estimados) e provar do terroir de suas plantas em minha boca.

Isso de sentir e qualificar o terroir das plantas, prova-se uma tarefa de amantes, requer amor mesmo. Porque o terroir não é só o gosto na boca, não é só o perfume da flor ou suas cores e formatos. Isso de terroir também é medido através da quantidade de giros na cabeça ou de quais vozes que aparecem ou somem. A interpretação do terroir começa no germinar das mãos e dedos locais. E recomeça em nossos dedos bolando o verde de cada lugar. La cripa, parce.

O terroir colombiano chegou me mimando, e eu deixei, ah, eu deixei. O terroir colombiano me veio escondido no jardim botânico e me veio cheio de ideias, palestras, notas de caderno e charlas questionadoras. Esse danado terroir paisano me veio quebrando as pernas, ali não faz muito sentido permanecer de pé sem poesia. Me veio inundando de doce a boca e de exu a cabeça.

E daí fiz o melhor que pude, compartilhei do que consegui e entreguei-me a sua noite bagunçada de domingo. Sua madrugada vem cheia de fissurinha pelas praças, arrebitando narizes brancos. Fico pensando em voltar lá para ver se todas essas sensações e experiências se confirmam, mesmo sabendo que voltarei e serei outra e toda essa nostalgia elaboradamente criada será reinventada. A mesma maneira que o carnaval se reinventa todo ano, Medellín compartilha algo com a folia que não entrega-se a monotonia. Colômbia não é terra de mono-tons. Aliás, América Latina inteira até agora. Nossas cores se atropelam pelos olhos e escorrem pelos instrumentos.

Olha ela, nem conhece direito, nem sabe se quando volta muda, nem sabe de nada. Só sente uma coisinha aqui e outra ali e assume toda essa propriedade de sentir saudades da Colômbia. Na maioria das vezes fico com a impressão de que me entrego demais, romantizo demais, faço versos do que passa leve feito brisa. Mas quanto a isso já fiz minhas pazes, decidi que o processo é de transformar as bobagens em poesia mesmo, porque aí mesmo quando o vendaval passa, sobram as folhas cheias de palavras sinceras sobre o vento que as remexeu.

E assim, então, escrevo um tiquinho sobre nossos dias colombianos. Sobre seus taxistas atrevidos e suas estações de rádio de salsa. Escrevo – derreto – sobre sua prosódia paisana, quebrada, solta, devagar e melódica.

Si o que, pues.

Ai, Medellín, tenho de me despedir, e não apenas porque respiro agora outros ares misteriosos mas porque já não sei mais compartilhar sobre a senhorita sem me repetir. É que de você vem esse redemoinho interno novo que aos poucos vou aprendendo a rodopiar. Hasta luego, chica. Nos vemos em breve em mais uma nova dança de vida. <3

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