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Napoleão, Cannabis e Guerra - Como estão relacionados?

Atualizado: 10 de mai. de 2020

Out, 2017, Ana Cavalcanti




O cânhamo, um acrônimo da MACONHA, é também a planta cannabis sativa. Em vista da grande variedade de usos dessa planta e da forma de cultivo, as nomenclaturas se diferenciam. Assim, o cânhamo/hemp geralmente é utilizado para se referir à cannabis cuja finalidade não é o efeito psicoativo e, sim, o industrial. Ou seja, o cultivo é focado sobretudo na produção de fibras para originar diferentes produtos, e não de flores com tricomas que contêm os cannabinóides, dentre eles o THC.

O cânhamo foi importante para o desenvolvimento da humanidade, na medida em que originou produtos fundamentais para a organização da sociedade em diferentes épocas e lugares. Nesse sentido, durante o século XVIII, o cânhamo era produto essencial para manutenção do sistema vigente e a produção russa, necessária para abastecer esse mercado. Há referências (1) com gráficos que mostram a importância do cânhamo para a comunidade internacional e a liderança russa na sua produção em 1716 e 1717 . Dentre os países dependentes do cânhamo produzido pela Rússia, destaca-se a Inglaterra, cujo Império, relacionado ao domínio marítimo, teve significativos impactos sobre a atual configuração mundial . Ora, uma vez que a partir dessa planta obtém-se tecidos, cordas, roupas de marinheiro, óleo para combustível de lanternas, sementes como rica fonte alimentícia, compreende-se como o hemp era , de fato, estratégico nesse contexto. Nesse mesmo período, ocorria a chamada Expansão Napoleônica. O general pós Revolução Francesa começou a incomodar a Inglaterra. Apesar dos inúmeros territórios conquistados, a França tinha dificuldades de vencer a Inglaterra por mar. Algumas estratégias foram utilizadas, dentre elas, é relevante para este debate o Tratado de Tilsit, (2) assinado em 1807 entre Napoleão e o Czar Alexander, da Rússia. Das diferentes disposições do artigo, destaca-se o bloqueio de trocas comerciais entre a Rússia e Grã Bretanha, seus aliados ou qualquer outra nação neutra agindo para eles. Tal acordo visava interromper o fornecimento de cânhamo para Inglaterra, devido à importância estratégica desse produto para a manutenção da força do império britânico. O bloqueio inicialmente impulsionou a expansão francesa, colapsando a aparente paz do continente. Porém, a Rússia também foi significativamente afetada por esse acordo, inclusive, porque as trocas comerciais envolvendo o cânhamo eram importantes para a manutenção de sua balança comercial. Então, no fim de 1810, os portos russos foram abertos para nações neutras, apesar dos impedimentos devido ao acordo feito com a França. Os Estados Unidos, como nação neutra, foram importantes agentes desse comércio ilegal em favor do Império Britânico. Os navios americanos foram sequestrados pelos ingleses, que ofereciam ouro adiantado para que buscassem hemp russo, e mais ouro quando o cânhamo fosse entregue. Essa troca era positiva porque também possibilitava aos americanos negociarem outros produtos russos. Apesar das pressões de Napoleão e do Tratado de Tilset, o Czar continuou a fazer vista grossa pro comércio ilegal de cânhamo envolvendo Inglaterra, Estados Unidos e Rússia. Assim, a guerra eclodiu em 1812. Suas consequências foram significativas para a atual configuração do mundo ocidental. Vale destacar que esses incidentes estiveram diretamente relacionados com a vinda da família real portuguesa para o Brasil e as inúmeras mudanças que a acompanharam. A história do Canadá também foi influenciada por essa guerra cujos motivos estiveram relacionados com o cânhamo. A guerra de 1812 interferiu na expansão do império napoleônico, assim como na capacidade de produção de cânhamo na Rússia. Essa reflexão pretende demonstrar como a cannabis foi um produto muito relevante para humanidade, não apenas como commodity estratégica por derivar produtos essenciais para diferentes sistemas em cada época, mas como significativo fator econômico e político que resultou em importantes eventos que alteraram o curso história. Ao exemplificar uma pequena passagem muito conhecida da história , fica nítido como as informações relativas à cannabis foram simplesmente suprimidas do conhecimento geral. Estudamos as guerras napoleônicas na escola. Estudamos o impacto da marinha britânica. Ninguém nunca mencionou para mim sequer a existência do cânhamo como importante colheita, quem diria destacar a relevância que ele possui nos eventos que estudamos na escola. Referências Murray, John T. “Baltic Commerce and Power Politics in the Early Eighteenth Century.” Huntington Library Quarterly, Vol. 6, No. 3 (May, 1943), pp. 293-312. In Nelson's Wake : : The Navy and the Napoleonic Wars, by James Davey, p.149, Yale University Press, 2016 Para saber mais: Vantreese, V.L. “Industrial Hemp: Global Operations, Local implications.” (1998) Department of Economics, University of Kentucky America, Russia, Hemp and Napoleon, by Alfred Crosby Jr., Ohio State University Press, 1965 America, Russia, Hemp and Napoleon, by Alfred Crosby Jr., Ohio State University Press, 1965 The Treaty of Tilsit: Russia, France, England and the Hemp Plant, by Jeff Meints, 2013 http://treaty-of-tilsit-hemp.blogspot.ca

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